segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Revoluções, guerras e o Brasil.

Por Pedro lira.



O presidente dos EUA Barack Obama realizou cortes no orçamento militar dos EUA estipulados em um trilhão de dólares, o equivalente a metade de nosso PIB, de acordo com o plano estes gastos serão cortados em dez anos. Mas não devemos nos enganar e acreditar que a natureza imperialista do EUA mudou. Durante 10 anos esse orçamento cresceu devido a demanda das guerras no Iraque e Afeganistão, uma guerra próxima contra o Irã poderá relativizar ou até mesmo reverter esse corte orçamentário. Os EUA investem bilhões por ano em armamento e tecnologias militares, e nos últimos anos países como a China, Rússia, Venezuela entre outros aumentaram seus investimentos militares. O mundo vive uma espécie de nova corrida armamentista alimentada pelas ações do Império e pelos temores de uma possível guerra mundial gestada pela recessão econômica. Entretanto o Brasil parece não se preocupar com essa crescente militarização do mundo. Temos como exemplo a novela dos caças da FAB.
Em 2008, no início da crise econômica mundial o Brasil tinha 171 pretensos aviões de combate. Essa frota diminuta dava um aparelho para cada 50 mil quilômetros quadrados, diluído em nosso território gigantesco. Os anos passam e a novela segue em direção ao nada. Um acordo de compra que prevê a aquisição de 36 míseras unidades de novos modelos, está em negociação a quase 10 anos. Mesmo adquirindo esses caças ainda teríamos uma força aérea tão ridícula quanto o Incrível exército de Branca - Leoni. Comparado com os EUA nossa frota é risível, os EUA possuem 2600 aviões de última geração em operação, e em um esforço de guerra, eles podem triplicar sua frota em poucos anos através de seu complexo industrial militar. Que a construção de novas fragatas pela marinha tenha sido privilegiada nesses últimos anos, devidamente impulsionada pelas nossas riquezas marítimas, em especial o pré-sal, nossas maiores jazidas de petróleo até agora descobertas. Mas a guerra moderna se ganha pelo alto, logo uma força aérea forte é imprescindível.
Temos uma tradição de guerra fraca e uma tradição policialesca forte, as longas ditaduras e o isolamento físico do Brasil contribuíram para essa formação. A política que define as prioridades de defesa. Entretanto diante dos últimos acontecimentos mundiais; recessão, revoluções, guerras, e o acelerado avanço tecnológico, melhor seria por as barbas de molho. Vencer o Brasil em uma guerra pode ser tentador para um super exército de rapina. Um país grande, rico e fraco - pois que desarmado- pode alimentar desejos do Império que ronda hoje o oriente médio. Afeganistão, Iraque, Líbia, já sentiram o furor dos caças de supremacia aérea de quartas e quintas gerações do EUA. Hoje nosso isolamento físico é relativo ante os desenvolvimentos da indústria e tecnologia. Terminada a conquista do oriente - médio, quem seriam os próximos?A bem armada China ou a débil América - latina?
A construção de um complexo industrial militar brasileiro, submetidos somente aos interesses da democracia, do governo federal, militares, e ao parlamento, deve passar por um urgente debate com a sociedade civil. Cientistas, jornalistas, advogados, intelectuais devem pautar o debate com idéias- propostas, analisando quais são as necessidades para defesa do país, independentemente dos interesses do mercado internacional, ou mesmo limitar o assunto ingenuamente a uma questão militar. Soberania é um problema social e interessa a todos cidadãos.
Essa necessidade de defesa têm um contexto bem claro, o Brasil é a potência ascendente da America do sul, nossos interesses de defesa devem ser integrados aos interesses de defesa da America do Sul e de suas democracias, independentemente dos nossos irmãos ricos do norte, com seus organismos internacionais, ONU, OTAN, e FMI. Por isso a supremacia aérea é tão importante para a defesa do Brasil e do continente.
Para isso deve-se afastar o olhar das estratégias do século XX e enxergar que tipo de desafios poderíamos enfrentar no século XXI. Um olhar para o passado que integre o presente expressa bem os desafios a serem enfrentados. Quais seriam os melhores recursos e estratégias para defesa? O sucateamento das nossas forças armadas mostra um estado que nunca precisou de fato enfrentar uma grande guerra e que sempre usou suas forças armadas para reprimir um povo desarmado, ou para auxiliar as forças policiais no combate ao crime. Enfrentar traficantes em um morro é bem diferente de enfrentar um exército bem organizado dentro dos termos dos últimos avanços tecnológicos atuais.
Foram os contextos internacionais que definiram nossa estratégia de armamento e defesa. Após a segunda grande guerra possuíamos uma versão diminuta do exército norte americano. Durante o regime militar alas nacionalistas envolveram o país no contexto da guerra fria, tentou–se criar uma industria mais ou menos autônoma de foguetes , aviões e chegaram a criar um programa nuclear tendo sonhado com os poderes da bomba atômica, mas devido ao seu mal governo os militares antes do fim da guerra fria foram expulsos do poder pela ação do povo.
Fundou-se então a democracia em meio a crises econômicas internas, mas ao longo das décadas firma-se nosso projeto democrático e a economia nacional se consolida. Merecidamente os militares foram postos de lado e cobrado pelo ônus dos seus crimes cometidos durante o regime. O governo militar foi fundamentado na tortura, em atos inconstitucionais, em todo tipo de assassínios e arbítrios. Ora mas a força de um exército reside no povo, e a democracia mostra força com o desenvolvimento político econômico da ultima década. Agora precisamos pensar o que fazer com esse desenvolvimento enquanto povos do continente sul-americano e creio que uma democracia precise tanto de cidadão engajados no processo político como de boas forças armadas, com soldado politizados, bem educados, esclarecidos e bem armados e cidadãos guerreiros, bem engajados na vida social, que não dependam de forças policiais, de psiquiatras e figuras paternalistas para garantir a plenitude de suas liberdades, de sua cidadania.
Pensar que tipo de forças armadas queremos para o Brasil e América do sul é de grande importância em um contexto internacional turbulento para irmos em direção de uma democracia ampla, participativa e direta. Aumentando os fóruns de debate, estudo e protestos, pensando saídas conjuntas enquanto sociedade, coletividades, identidades e indivíduos livres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário