sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Ditadura eletrônica: o nascimento do “big brother” nas cidades.

O fato da guarda civil metropolitana de São Paulo inaugurar uma central de vídeo monitoramento, que entre os objetivos, além da justificativa de aumentar a segurança urbana, está a fiscalização do comércio ambulante, inibindo o comércio irregular, vandalismo e o uso “impróprio” do espaço público deveria causar no mínimo uma dúvida, a começar que este fato não pode ser compreendido como algo isolado, mas como uma política sistemática de vigilância do cidadão que está ocorrendo em todo o Brasil, diversas cidades já adotaram ou vão adotar este modelo. O combate ao comércio ambulante e irregular de certa maneira, no limite, pode aumentar a violência urbana na medida em que esse sistema, se for eficiente, poderá empurrar para o desemprego centenas de trabalhadores autônomos, isso apenas em São Paulo, aumentando no fim a violência, afinal, se o sistema inviabilizar o comércio ambulante parte destes comerciantes poderão ser tentados a virarem criminosos para obter recursos e sustentar suas famílias. Embora seja inegável um certo temor geral que causam aos criminosos e que no limite seu uso público é legítimo, mas o ganho em segurança é perda em liberdade. Este processo de instalação de câmeras pela cidade, olhos digitais dos vigias da ordem pública, se multiplica conjuntamente com o aumento de câmeras de segurança das empresas e dos condomínios nos bairros da cidade, entretanto este acontecimento não gera um questionamento por parte da sociedade civil. Estamos sendo vigiados porquê? Essa é a única forma de se combater a criminalidade? Os dados produzido por essas centrais vigilância será usado apenas por funcionários idôneos e honestos? Ou poderão ser vendidos como informação a empresas, ao google ao face book, à terceiros e talvez até para criminosos? Questionar essa cultura de certa maneira é questionar o para quêm e o para oquê elas foram construídas e se expande, não seria essa cultura as semente de uma tirania, um novo poder? O bandido, o terrorista, o vendedor ambulante por vezes é só um bode expiatório, um motivo para fomentar toda uma nova economia e domínio. O fato de por vezes o governo e o poder público ter que censurar certos vídeos na internet, chegando a prender funcionários e diretores de empresas como a google mostra o tanto que essa questão é séria. O poder público não têm poder sobre o uso e o comércio das imagens em seu poder, um exemplo disso foi a pouco tempo a divulgação das imagens da CPTM que mostra um casal fazendo sexo dentro de um vagão vazio dos trens da companhia. Ora tudo isso porém têm uma importância pequena perto das transformações a longo prazo. Os bandidos se adaptarão ao novo sistema, já estão mais sofisticados usando máscaras e a própria internet, desenvolvendo controle remotos especiais para desligar as câmeras. O grande perigo porém será a união entre esse novo poder com as novas tecnologias tais como inteligência artificial, programas de reconhecimento facial, memória digital e etc, fornecerão às futuras ditaduras recursos bem maiores aos recursos dispostos dos terríveis totalitarismo do século XX. A sombria distopia de George Orwell torna-se a cada dia menos ficção e sua realização profética se dá, por ironia, em meio a uma sociedade democrática, os futuros ditadores poderão ter a sua disposição um sistema de vigilância do cidadão gerado em nome da segurança pública, da proteção ao patrimônio privado e público. E a instalação desse programa é geral e sistematica, tanto que está sendo instalado no Brasil todo, um exemplo é a central de Recife, que também aumentará seu número de câmeras. Hoje todo membro da sociedade se familiariza-se cada vez mais com câmeras de filmar e ser filmado, não apenas com câmeras de segurança, mas com câmeras de celulares, máquinas fotográficas digitais, de certa maneira esse processo e irreversível, se a Democracia não criticar, debater e encontrar soluções reais a uma superexposição do cidadão a essa cultura, a ditadura eletrônica se instalará tranquilamente e paulatinamente financiada com nosso dinheiro, com o dinheiro dos impostos, com o trabalho das próprias vítimas, o contribuinte, o cidadão. O debate sobre segurança pública e a violência urbana não pode se limitar a uma questão técnica de vigilância e aumento do efetivo militar, mas antes deve-se ir a raiz do problema que é a grande diferença entres as classes sociais existentes no Brasil, a concentração da renda na mão de poucos, o descaso com a educação publica de qualidade, somado à corrupção endêmica de políticos empresários e da sociedade como um todo. Podemos pensar em soluções à violência urbana? É evidente que sim, a única solução é a redistribuição de renda somada a pesados investimentos em educação para as populações mais pobres, além da criação de um sistema jurídico eficiente e democrático e é claro transparente. Em vez de mais câmeras mais poder a população vítima de todo esse sistema. Questionar criticar e participar da gestão das chamadas questões “administrativas” tanto no público como no privado é um pré requisito em uma democracia, e só podemos fazer isso com educação tempo e liberdade e é claro conscientização política.